sábado, setembro 22, 2007

Acumular saber é acumular infelicidade?
Estava dando uma olhada no blog do Marcelo Coelho [colunista da Folha de São Paulo] e acabei achando uma discussão que me interessa bastante...O autor, no texto que segue abaixo, fala dos textos Eclesiastes [versus] a visão otimistas e irreal dos intelectuais [inspirados por Rousseau] a respeito da experiência Humana [em linhas gerais, para os intelectuais que seguem a linha Eclesiastes tudo é "vaidade das vaidades" ou "névoa do nada", enquanto os de inspiração Rousseauana acreditam num "destino humano" cujas limitações sejam apenas aquelas impostas pela sociedade]. Me interessa, sobretudo, essa dualidade entre conhecimento e infelicidade o (inverso também) e até que ponto somos realmente felizes na medida em que ampliamos a visão e o entendimento dessa complexidade que nos cerca..já me questionei muito a esse respeito (lógico que numa escala micro) e acho que esse texto, por mais que seja curto, me ajudou bastante a amenizar minhas inquietações, mesmo porq sanadas elas nunca serão...fazem parte do processo...

A sensação de vacuidade de tudo, do tamanho diminuto que nós temos diante do universo, da dor que existe em viver, saber-se mortal, naturalmente são coisas que todo mundo sente. Também é freqüente que a gente sinta coisas absolutamente diversas, e igualmente verdadeiras. Um poeta lírico muitas vezes se lança a escrever versos melancólicos, pessimistas, que apontam a nulidade de tudo –penso na poesia de Leopardi, por exemplo; e há os momentos de entusiasmo, de euforia imensa, como por exemplo os de Goethe, na sua “Canção de Maio”, onde o poeta, evidentemente porque está apaixonado, faz versos de pura exclamação: “Como a Natureza resplandece para mim! Como brilha o sol, como há risos na campina!” Amor! Amor! Etc. Etc.!

São estados de alma, e todos, afinal, fazem sentido, têm eco na experiência de cada um de nós. Mas a questão levantada aqui pelo Pondé vai além do que podemos chamar de “empatia literária”, ou de “compreensão poética” do texto. O ponto principal é a tese do Eclesiastes segundo a qual “acumular saber é acumular infelicidade”.

Com certeza, esse é um pensamento que tem conseqüências sérias, e talvez valha a pena discutir essa questão com mais detalhe.

De um ponto de vista, isso é inegável. Nós podemos pensar que um cachorro, ou um peixe, não sabem que vão morrer, não sabem que o destino deles poderia ser diferente, e nesse sentido são mais felizes do que nós. Mas podemos dizer também que eles não sabem que são felizes, de modo que nesse jogo perdem na hora o prêmio que ganharam com a própria ignorância...

Seja como for, essa opção –a de abandonar a consciência, a razão, em favor de uma espécie de bem-aventurança animal--, essa opção não está a nosso alcance. A história do fruto proibido, que Eva deu a Adão, tem um significado muito profundo: porque todo dia, nós poderíamos talvez jogar fora esse fruto, não participar do conhecimento do bem e do mal, não querer mais provar da árvore do conhecimento. Mas todo dia nós nos recusamos a fazer isso: ninguém quer se transformar em animal, em peixe, ou cachorro...

A identificação entre conhecimento e infelicidade se tornou, entretanto, muito comum no Romantismo do século 19, depois de todo o derramamento de sangue promovido pela Revolução Francesa, em especial depois de Robespierre, que instituiu o culto oficial da Deusa Razão, enquanto mandava dezenas de milhares de pessoas para a guilhotina. Natural que a Razão, o conhecimento, passassem a ser então responsabilizados pelos horrores daquele período. Surgiu então com força uma corrente antiiluminista, que insistia por exemplo nas belezas da religião católica, nos sentimentos de caridade, de consolação, de humildade que ela era capaz de despertar. Uma frase muito eloqüente dessa visão de mundo é a do visconde de Chateaubriand, que diz: “a Razão nunca secou nenhuma lágrima”.

A gente ouve uma frase dessas, e parece convincente, mas eu gostaria de responder um pouco a esse argumento, que é muito poético, com uma frase bem mais prosaica: não foi a religião quem inventou a anestesia.
Marcelo Coelho
pra terminar acho que essa frase resume um pouco o que penso a respeito:
"Entre o ópio confortável da religião ou do pensamento conservador, prefiro a negatividade da razão"....Eu também!!..rs
O conhecimento as vezes pode incomodar, mas (sempre) liberta...
é isso...

2 comentários:

Mãe Dinah disse...

Tive uma aula sobre Eclesiaste há algum tempo, e na semana passada, parei para dizer a um dos meus professores que, mesmo depois de 2 anos, essa ainda era a melhor aula que eu havia assistido.
Usam o termo "vão" para descrever a filosofia Eclesiástica (já nossas bíblias são traduzidas do Grego), mas, sabendo que o contexto era de crítica à própria cultura helenista, a tradução é muito mais fácil... só queriam dizer que tudo era MERDA!

Mãe Dinah disse...

Então, a apostila que eu tenho sobre essa aula é muito específica, sobre a filosofia da COISA(!?) eu só fiz anotações.
Quando eu tiver um tempinho faço uma síntese e posto no blog... aliás, faz tempo que eu queria fazer isso!
bjín